quarta-feira, 19 de fevereiro de 2014

Especial Oscar: Crítica - Philomena



    "Philomena" é um filme simples e que se baseia numa história real  para construir uma obra que, em sua curta duração, consegue discutir temas certamente polêmicos sem cair no sentimentalismo barato ou tentar chocar o espectador a qualquer custo. Stephen Frears ("Ligações Perigosas") cria uma trama baseada em seus atores competentíssimos e num roteiro muito bem costurado, pegando para si a função de apenas acompanhar o desenrolar de tudo, com um trabalho de câmera convencional, porém eficiente.

    Philomena (Judi Dench, "007 - Operação Skyfall"), na adolescência, engravidou de um menino, foi condenada a uma vida servil num convento e separada de seu filho, o qual foi vendido para um casal de americanos contra sua vontade. Décadas depois, ela conta com a ajuda de um jornalista desempregado (Steve Coogan, "Trovão Tropical") na busca pela criança desaparecida.

    Seria um filme comum, com gostinho de dejá vù, não fossem as excelentes subtramas costuradas pelo roteiro de Jeff Pope e do próprio Coogan. Além de, claro, as maravilhosas interpretações de Coogan e, principalmente, de Judi Dench. Ambos convivem em profunda oposição: pelos modos de agir, pensar e encarar a vida. Entretanto a química entre ambos é excelente, gerando uma relação de amizade e apreço por parte do espectador que certamente é algo difícil de se criar.

    Suas personalidades são construídas de forma indireta e bem realizada, a partir de diversas situações comuns, porém de fácil percepção até para o espectador mais desatento. Evita, assim, resvalar em narrações desnecessárias ou diálogos que explicitem tudo. Cenas como a do café da manhã no hotel são básicas, porém de importante força narrativa e ajudam a aprofundar ainda mais a essência da dupla principal.

    Na verdade, o foco do filme nunca fica preso à busca pelo filho perdido - essa situação até se resolve rapidamente -, o longa busca, sim, trazer à tona vários outros temas importantes e, o mais importante, criar uma personagem densa e poderosa (Philomena). Uma passagem muito bem construída por situações como homofobia, anticlericalismo e crimes da Igreja Católica.

    Sem cair no melodrama, "Philomena" é um drama poderoso. Alicerceado em seus personagens contrastantes e densos, além de suas discussões políticas e religiosas que fluem muito bem durante o longa. É um filme delicioso, simples e que certamente cairá nas graças do grande público. E merece isso.

Nota 8/10

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