quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Especial Oscar: Crítica - Capitão Phillips


    Baseado em fatos reais, "Capitão Phillips" conta a história do capitão Richard Phillips (Tom Hanks, de "Náufrago"), cujo navio cargueiro foi sequestrado por piratas somalis. O longa se passa quase que totalmente em alto-mar, exceto por uma pequena introdução que mostra as diferentes realidades em que vivem Richard, americano, e os piratas somalis. Ali começa a ser delineada a trama política subjacente ao thriller, a qual infelizmente não chega a se desenvolver muito.

    O enredo político não é estranho à filmografia pregressa de seu diretor, Paul Greengrass. Desde o conflito na Irlanda durante os anos 70, em "Domingo Sangrento", passando pelo terrorismo com "Voo United 93", até seu filme anterior, "Zona Verde", que tratou da Guerra do Iraque; Greengrass trabalha em filmes de ação acessíveis ao grande público e que venham com um algo a mais. Ainda que muitas vezes suas pretensões esbarrem nos próprios limites hollywoodianos.

   O filme, como um todo, é tenso e angustiante. As sequências de sequestro do navio e de resgate do capitão são pontos chaves e representativos da força de Paul Greengrass como diretor. Se assemelha a outro indicado ao Oscar, "Gravidade", ao também praticamente colocar o espectador como presente durante aqueles acontecimentos. Nisto também é importantíssima a presença da trilha sonora, composta por Henry Jackman, que amplia ainda mais o nervosismo e tensão das cenas e a montagem ágil de Christopher Rouse.

    Entretanto também é notável que a película em momento algum sai da linha típica do gênero ou ousa em termos de roteiro e subtexto político. Há pouco enfoque na parte dramática da história - sendo que seria interessantíssimo que ela existisse -, na maior parte do tempo temos apenas um filme de ação bem realizado. Além disso, como já dito, a discussão política sobre a questão dos somalis - e sua situação precária de vida - em choque com os desejos dos grandes poderosos dos países ricos é muito superficial, ficando segregada a alguns parcos diálogos entre Richard e o líder dos sequestradores, Muse (o estreante Barkhad Abdi).

   E, por falar nele, Abdi é uma das muitas revelações do ano em atuações. Em um papel que facilmente cairia na unidimensionalidade e no lugar-comum, o ator somali faz uma interpretação absolutamente crível e impressionante, injetando camadas de complexidade ao seu personagem. Já Tom Hanks, após anos sem entregar trabalhos realmente notáveis, volta à forma numa atuação excepcional. Sua interpretação durante a cena final é absolutamente soberba - daquelas sob medida para se colocar ao apresentar o ator nas premiações -. Uma injustiça sua não-indicação ao Oscar.

   Em última análise, "Capitão Phillips" é um bom e eficiente longa. Extremamente bem dirigido e com parte técnica impecável, além de contar com duas atuações principais de primeiro nível. Entretanto, chega a ser decepcionante a falta de coragem na abordagem política e narrativa. Greengrass escolhe abraçar exclusivamente a ação, mas podia ter ido além.

Nota 7/10

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