domingo, 9 de fevereiro de 2014

Especial Oscar: Crítica - O Grande Gatsby


    Não haveria como esperar outra coisa da adaptação cinematográfica de Baz Luhrmann para "O Grande Gatsby" que não exagero imagético. Um diretor que possui "Moulin Rouge - Amor em Vermelho" no currículo não poderia fugir disso, já que está na sua concepção de cinema. A questão seria a dosagem de histrionismo, principalmente pelo fato de o texto original de F. Scott Fitzgerald guardar uma pesada crítica social. E, de fato, Luhrmann quase engole a história toda.

    O enredo é conduzido sob o ponto de vista de Nick Carraway (Tobey Maguire, de "Homem-Aranha"), que é fascinado por seu misterioso vizinho e novo amigo, Jay Gatsby (Leonardo DiCaprio, "A Origem"). Gatsby é famoso pelas festas que dá em sua enorme mansão, porém sua única intenção com isso é chamar a atenção de seu amor do passado, Daisy Buchanan (Carey Mulligan, "Shame"). Ela agora é casada com o ricaço e arrogante Tom Buchanan (Joel Edgerton, "Guerreiro") e cabe a Nick aproximar Gatsby dela novamente.

    Todo o primeiro ato é purpurina pura. Mas não é como se Luhrmann já não nos avisasse disso já nos créditos iniciais, né... Sequências musicais coloridas e exageradas, embaladas pela trilha sonora repleta de músicas atuais (a qual não funciona tão organicamente como ocorreu em "Moulin Rouge"). Elas engolem a história de todo o primeiro ato. Acompanhamos tudo sem qualquer imersão, somos meros observadores dos fogos de artifício de Luhrmann. É uma primeira parte bem cansativa, para dizer o mínimo. Principalmente para os olhos. Decididamente o australiano perdeu a mão ali.

    A trama e a crítica social séria de "Gatsby" não aceitam tanto o histrionismo dele da forma como "Moulin Rouge" obviamente aceitava. Pelo menos todo o exagero mostrou o poder da direção de arte, da fotografia e figurino do filme - belíssimos -. Entretanto, as atuações acabam ficando escondidas perante tanto brilho: Mulligan está insossa, Maguire com a cara de sempre e Isla Fisher, a amante de Tom, exagerada como seu diretor. DiCaprio é, de fato, o único a trazer alguma profundidade - ainda que também esbarre em maneirismos -.

    Já na segunda parte, tudo melhora. Luhrmann põe o pé no freio e deixa a força do livro falar por si. O foco muda da técnica para o texto e seus personagens e, enfim, a história começa a andar. Saímos da montagem atropelada do começo, para um ritmo bem mais respirável para o espectador. Apesar disso, já era um pouco tarde. O interesse já não era o mesmo, a paciência também não. Luhrmann, na verdade, fez o serviço de estragar algo que poderia ter sido ótimo e feito jus ao clássico literário que "O Grande Gatsby" é.

    O que fica, realmente, é a parte técnica maravilhosa - o que já era esperado - e um segundo ato que funciona e recupera o fôlego do filme. Luhrmann agora pelo menos tem um sucesso comercial passado no currículo para conseguir financiar sua próxima ousadia e, quem sabe, chegar a alguma obra de bom nível. Em "O Grande Gatsby", ele com certeza não o fez.

Nota 6/10

Nenhum comentário:

Postar um comentário