domingo, 5 de fevereiro de 2012

Crítica - Histórias Cruzadas


    ''Histórias Cruzadas'', que chamarei aqui de ''The Help'', o título original, por um motivo que mais para frente explicarei; não é um bom filme. Poderia ser, mas não é. Muita gente talvez vá achar isso, mas não é. A razão para isso é sua concepção totalmente equivocada, trazida de um livro homônimo de Kathryn Stockett. Equivocada, por quê? Porque não prega a igualdade racial, como esperado. É um filme racista. Maniqueísta. Encaixe o adjetivo que desejar.


    As 'histórias que se cruzam' são as da jornalista Skeeter (Emma Stone), que tem como sonho escrever um livro; e as das empregadas negras de sua cidade natal, no estado do Mississippi. Um Mississippi da década de 60, marcado pela segregação racial - regulamentada por lei - e pela violência contra os negros. O ambiente estava ali, pronto para um bom filme. Só que o resultado ficou aquém, bem aquém. Tão aquém que, para citar qualquer ponto positivo do longa, você, necessariamente, precisa introduzir algum negativo.


     Num primeiro exemplo: o elenco de ''The Help'' é um dos melhores do ano, sim! Viola Davis (indicada ao Oscar), como a doméstica Aibileen, faz um trabalho absurdamente sensível e expressivo - é uma das melhores atrizes atuais -; entretanto, a empregada é um estereótipo forçadíssimo. A mulher 'sofrida' e sozinha é desenvolvida pelo roteiro de uma forma tão engessada quanto possível. Um milagre interpretativo de Viola. Culpa de Tate Taylor. Uma outra grande atriz também salvou uma personagem fraca: Jessica Chastain (indicada ao Oscar também). 


    O papel da 'patroa liberal' Celia Foote, nas mãos de uma qualquer, sairia apenas uma mulher irritante e fútil. Jessica a eleva a muito mais do que isso. Poderia citar também Bryce Dallas Howard - que aqui seria algo como 'o mal em pessoa' -, a qual humaniza muito bem a manipuladora e criadora da lei do 'banheiro-exclusivo-para-empregadas-negras-em-todas-as-casas' Hilly Holbrook. Ou então Emma Stone que dá toques sutis de personalidade para a rasa escritora Skeeter; ou Sissy Spacek (*-* Carrie *-*), ou Allison Janney, sei lá. Todas, menos Octavia Spencer.


    Sim, Octavia, favorita para Atriz Coadjuvante - e ganhadora da maioria dos prêmios na ''área'' - é a pior atriz entre todo o elenco. A pior porque não sai do estereótipo, ela o mantém e o piora ainda mais. Ela é a negra 'mano' da história: direta, sincera e explosiva; em que lembra muito Queen Latifah - até por ter uma indicação ao Oscar injusta -. Sua função, cumprida com razoável sucesso, é fazer rir. Nos momentos dramáticos, decepciona (principalmente numa cena com Celia, em um banheiro). Ah, e essas cenas cômicas aí, que mencionei; nenhuma delas deriva da maldita torta de merda, ok? Uma das coisas mais absurdas (você confundiria merda com chocolate?) e desnecessárias dos últimos tempos - e que impera nos tais momentos cômicos da obra. Na última meia-hora todos os personagens fazem algum comentário irônico sobre a malfada torta.


     Bom, já expliquei minha teoria de que qualquer ponto positivo daqui acaba virando um negativo, né? As interpretações são fantásticas, todavia as personagens 'cruas' são fracas. ''The Help'' faz rir, numa tentativa clara de torná-lo um feel good movie para a digestão da temática ser menos 'dolorosa'; no entanto falha miseravelmente nisso, na parte final. Então agora explico porque é como ''The Help'' que prefiro chamá-lo.

    Não é pela tradução literal 'A Resposta', numa alusão à uma resposta das empregadas negras às patroas brancas conservadoras. E sim por um tradução 'não oficial', como 'A Ajuda' mesmo. Aparentemente o filme nos diz que as negras daquela cidadezinha apenas conseguiram se reerguer e enfrentar a 'tirania' depois que uma branca lhes dá um suporte, lhes 'ajuda'. Pode parecer exagero meu, talvez seja mesmo. Porém onde está Martin Luther King, relegado à uma passagem mínima de um discurso seu na TV? Naquela exata época ele liderava a busca por direitos civis para os negros, só que quem inspirou essas empregadas foi uma mulher branca e não ele?


    Ah, e a KKK, hein? Uma menção mínima - ima, ima - e já está bom? Mais uma vez Tate Taylor (e talvez a escritora do livro original também tenha feito o mesmo) ignora o contexto histórico. A trama parece alheia ao resto do país, ao resto do estado Mississippi. Enfim, cheguei á conclusão de que ''The Help'' é muito bem interpretado de modo geral, porém porcamente roteirizado. O saldo final é negativo e irritante; mas pelas atrizes - e unicamente por elas- a nota não será mais baixa.      Nota: 5/10

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